sexta-feira, 8 de abril de 2011

Buteco CDG: Livro Relata Vida de GP no Hotel Lírio

 Mineiros são loucos por rapidinha, diz autora de "Filha, Mãe, Avó e Puta"

Belo Horizonte é definida por Gabriela Leite como a capital do papai-e-mamãe. O relato está presente no livro "Filha, Mãe, Avó e Puta", sua autobiografia.
Na obra, o leitor acompanha o percurso de Gabriela, do nascimento às experiências na prostituição, até a fundação da ONG Davida e da grife Daspu --fatos que fizeram dela uma personalidade nacional.
A moda agora, é puta virar escritora
Durante a leitura, Gabriela mostra-se uma mulher politizada, consciente. Fala de sua atuação no movimento social, que lhe rendeu convite para ser candidata a deputada federal pelo Partido Verde no Rio de Janeiro.
Por vezes se descreve como rebelde e fala constantemente de suas pequenas revoluções. Tal qual a personagem "Ana Terra", de Érico Veríssimo (1905-1975), as mudanças em sua vida são anunciadas pela chuva. Na obra do escritor gaúcho, é o vento que marca a chegada de novos fatos.
Na parte do livro em que muda para a capital de Minas em busca de trabalho, Gabriela reflete sobre as diferenças e preferências sexuais de cariocas, paulistanos e mineiros. É neste trecho que descreve Belo Horizonte como a terra do papai-e-mamãe. "Por ali, Freud morreria de tédio", dispara.
Diferente do que se pode imaginar, o livro não usa termos de baixo calão em contextos desapropriados. As descrições são comedidas, mas sem floreios. Leitora voraz, Gabriela usa uma linguagem direta e coloquial, gostosa, do dia a dia. Assume, sem o menor pudor, o vocábulo "puta", como forma de combater o estigma.
Leia trecho.

Hotel Lírio


A CAPITAL DO PAPAI-E-MAMÃE
Tinha um letreiro em vermelho, apagado mas vermelho, hotel Lírio. Gostei do nome. Àquela altura minha tristeza já tinha acabado. Eu era pura adrenalina. Subi as escadas e comecei a sentir um cheiro de tempero de feijão... feijãozinho mineiro. Fui entrando, passando por dezenas de portas, e lá no fundo tinha uma aberta. Era uma cozinha. Uma senhora bem velhinha fazia não só o feijão, mas um típico almoço mineiro. Lá estava a dona Ruth, proprietária do hotel Lírio.
Começava a cozinhar cedo o almoço das meninas que trabalhavam na casa. Elas pagavam, claro, mas era uma comida sem igual. Nunca comi tão bem na vida. E dona Ruth, uma cafetina totalmente diferente das de São Paulo, fazia almoço e jantar, honrando a tradicional comilança mineira. Em Minas, até a cafetina é cozinheira. Eu disse: "Bom dia." Ela me respondeu: "Ta vindo de onde, Rio ou São Paulo?" Era danada, a velha. Eu levei um susto e falei: "São Paulo", como quem foi pega. "Tá querendo um quarto para trabalhar, né?" Aí foi aquela coisa toda: a diária é tanto, temos almoço mas é pago separado da diária etc. etc. etc. A diária era altíssima, mas me permitia morar ali, além de trabalhar.
Ela me mostrou um quarto grande, com uma cama de casal. O grande problema do Lírio era que lá o banheiro era fora do quarto e coletivo. No quarto tinha apenas uma pia e uma bacia. Se alguém quisesse se lavar, tinha que ser na base do chuá-chuá. Mas era tudo limpíssimo, Minas é assim. Lençóis impecáveis, móveis, pia, chão, tudo nos conformes. Só não tinha banheiro individual.
Assim passei vários meses na Ruth e ela gostava de mim. Sempre tive sorte com cafetina, não peguei mau-caráter, e quando a cafetina não é mau-caratér, geralmente ela trata as meninas com respeito. É só você não entrar de sola, não fazer baderna, levar as coisas numa boa. E eu sempre fui muito na minha, o meu máximo foi a cena do elevador, quando estava na onda de tomar bolinha. Cafetina não suporta mulher que dá problema, e no meio da prostituição isso não é raro.
Em Belo Horizonte, numa semana de trabalho, a mulher ganha o equivalente a um mês em São Paulo. Mesmo pagando uma diária alta. Se a prostituta estiver com disposição para a alta produtividade, ela faz, num dia, cinqüenta programas. Enquanto em São Paulo faz cinco e, na antiga Vila Mimosa, dez, no máximo.
Quando vai chegando a hora da saída do trabalho, os hotéis vão se enchendo de uma maneira que você não consegue andar. Lá a mulher tem um quarto só dela para trabalhar. Ela escolhe se quer ficar nos corredores, na porta do quarto ou deitada na cama, com a porta aberta, fazendo palavras cruzadas, por exemplo. Para certas mulheres, faziam-se longas filas na porta do quarto. E era muito homem, muito.
Os mineirinhos são loucos, loucos por uma rapidinha. Belo Horizonte é a terra do papai-e-mamãe. Nada de invenção, só o básico. Nenhuma sofisticação, quase nenhum pedido especial. Eles não querem confusão e são de pouca conversa, Por ali, Freud morreria de tédio. Eu estava habituada com as conversinhas com o cliente de São Paulo e estranhei muito. No Rio, por sua vez, você não só conversa, como toma muita cerveja com seu cliente, você sabe da vida dele inteira, é praticamente um namoro. Em Belo Horizonte não, lá é fábrica. É por isso que as mulheres gostam. Mas a mulher que vai para lá não agüenta ficar muito tempo, não. Ela precisa estar numa onda de ganhar dinheiro, movida pela ambição. Os programas são baratos, mas a quantidade é absurda.
*
"Filha, Mãe, Avó e Puta"
Autor: Gabriela Leite
Editora: Objetiva
Páginas: 196
Quanto: R$ 36,90 
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

3 comentários:

  1. Parabéns pelo Blog, sou do interior e faz anos que freqüento o CDG, toda vez que vou a BH dou uma passada lá.

    Muito bom esse canal de informação para gente ficar sabendo das novidades.

    Continue!

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  2. Estou louco por uma garota nominada "Amanda", encontrei algumas fotos dela mas não tenho certeza se ela esta no CDG

    Fotos:

    http://img218.imageshack.us/i/teenworld14.jpg/
    http://img831.imageshack.us/i/teenworld55.jpg/

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  3. Puxa queria participar do fórum, mas parece que os caras nunca mais vão liberar inscrição...paia

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